Um na lama pelo povo, outro de botas limpas: A disparidade entre ação e aparência na gestão da crise por Peter Costa e Sérgio Fonseca diante das fortes chuvas

Por Charles Manga


Em meio ao caos e à devastação trazida pelas chuvas implacáveis no Espírito Santo, duas imagens emblemáticas surgem, retratando não apenas a diferença na gestão da crise, mas também a distância entre a empatia e a apatia no exercício da liderança municipal. São retratos de dois prefeitos, cada um adotando uma postura diametralmente oposta frente à adversidade, que revelam muito mais do que a eficiência de suas ações: mostram o caráter e a conexão com o povo que juraram servir.

Por um lado, temos o prefeito de Mimoso do Sul, Peter Costa, cuja imagem o captura em um momento de verdadeira liderança ativa. Desde o início da tragédia, que ceifou a vida de cerca de 18 pessoas em sua cidade, Peter se jogou literalmente na lama, lado a lado com seus conterrâneos, não apenas para comandar as operações de resgate, mas para ser parte integrante delas. Sua ação vai além do dever administrativo; é a personificação do compromisso humano, do líder que compartilha da dor e do esforço físico de sua comunidade, em um momento em que palavras de conforto precisam vir acompanhadas de atos concretos.

Contrastando com essa imagem de dedicação e solidariedade, temos o prefeito de Jerônimo Monteiro, Sérgio Farias Fonseca. Sérgio, já conhecido por polêmicas, como a condenação por irregularidades na utilização de recursos elétricos (gato na energia) em sua fazenda, é fotografado em uma forma que pouco remete à urgência ou à gravidade da situação. Em vez de lama, suas botas ostentam a limpeza de quem parece ter pisado apenas em palcos cuidadosamente preparados para a ocasião. A foto, que pretendia talvez mostrar proximidade ou ação, acaba por revelar distanciamento e uma certa teatralidade, destacando-se o auxílio de um serviçal para manter o conforto do prefeito, inclusive segurando seu guarda-chuva.

Este contraste não apenas ilustra duas maneiras distintas de encarar a responsabilidade pública em momentos de crise, mas também evoca uma reflexão mais ampla sobre o papel do líder em tempos de dificuldade. Enquanto Peter mergulha nas profundezas da adversidade, oferecendo não apenas seu comando, mas seu suor e lágrimas, Sérgio parece flutuar acima dela, descolado da realidade lamacenta que seus cidadãos enfrentam.

O desafio imposto por fenômenos naturais dessa magnitude é, sem dúvida, um teste árduo para qualquer administrador público. No entanto, é precisamente nesses momentos que o caráter de um líder se revela. Não se trata apenas de mobilizar recursos ou de coordenar equipes de resgate; trata-se de mostrar que, na essência da liderança, deve haver um profundo senso de humanidade.

O prefeito mais novo do Espírito Santo — no quesito idade —, nos mostra que, na lama, encontram-se não apenas os desafios, mas também as oportunidades de demonstrar verdadeira solidariedade e comprometimento com o bem-estar dos cidadãos. Do outro lado, a postura observada em Jerônimo Monteiro serve como lembrete de que, quando a crise bate à porta, as botas limpas de um líder podem se tornar símbolo de seu distanciamento e desconexão com as realidades enfrentadas por seu povo.

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